quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS



MEMÓRIAS DE UM BARMAN - EPISÓDIO 3

A Visita do Investigador

Depois de dar um fim em Alfredo, fui para meu apartamento, na zona sul da cidade. O lugar era tranquilo, próximo dali havia um supermercado e uma lanchonete e sempre que tinha fome, recorria a lanches rápidos.

Enquanto aguardava o sono chegar, pensava em algum plano para me livrar daquele investigador. Afinal de contas eu não poderia ficar na mão daquele um. Em seguida o sono chegou e eu adormeci.

Já passavam das 2 horas da tarde quando o barulho da campainha me acordou. Dei um pulo da cama e pensei: essa hora, quem será? Rapidamente coloquei meu pijama, olhei em volta do apartamento para ver se não havia nada suspeito e fui até a porta.

Vejo pelo olho mágico: era o investigador Humberto.

Antes que eu pudesse abrir a porta ele gritou:

- É a polícia, sabemos que você está aí. Abra a porta que queremos lhe fazer algumas perguntas.

Dessa vez ele não estava sozino.

Abri a porta e eles entraram.

Ele estava acompanhado de uma bela policial chamada Cristina.
Não conseguia lembrar, mas tinha certeza de que a conhecia de algum lugar. Seu quepe escondia seus cabelos e seus óculos escuros não me deixavam ver seus olhos, mas a sensualidade me era familiar.

Sentamos no sofá da sala e começou o interrogatório:

- Interrogamos seu psiquiatra e ele nos revelou sua ficha: você tem um comportamento vingativo, não tolera traições e pode usar de violência. Disse o investigador.

Tentei disfarçar, dizendo que eu havia trocado de psiquiatra, mas a policial insistiu, falando em tom mais agressivo.

- Você pensa que pode nos fazer de idiotas? Sabemos exatamente do que você é capaz. Onde está o seu colega Alfredo???

Alfredo??? Aquela pergunta caiu como uma bomba! Como eles descobriram sobre o Alfredo, se o crime foi cometido naquela madrugada?

Havia algo de muito estranho no ar. Eu tremia. Será que eles descobriram toda a verdade?

Tentei desconversar:
- Não sei nada sobre o Alfredo, sempre costumo sair antes dele do bar e ontem não foi diferente.

- Você está muito enrolado, rapaz! Estamos muito próximos de encontrar o assassino daquele empresário. Voltaremos a lhe procurar - disse Humberto.

Os dois se levantaram e foram embora. Enquanto Humberto e Cristina caminhavam em direção a porta, pude me lembrar de onde eu a conhecia. O seu jeito de caminhar e de se expressar, a leveza e a sensualidade não deixavam dúvidas: ela era a mesma garota que saiu com o empresário na noite do assassinato...

sábado, 21 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS



MEMÓRIAS DE UM BARMAN - EPISÓDIO 2

Assassinato no Estacionamento


O cliente havia sido assassinado. A perícia concluiu que a causa da morte foi envenenamento.

No fim da tarde quando cheguei ao bar para iniciar mais uma noite de trabalho, dei de cara com um investigador de polícia. Ele disse que se chamava Humberto e que gostaria de me fazer algumas perguntas sobre o cliente assassinado.

Ele devia ter cerca de 1,90m , 100kg, usava barba e nunca tirava seus óculos escuros, do tipo RyBan. Não usava farda e gostava de fazer muitas perguntas.

- Você conhecia a vítima ?– perguntou.
- Já tinha o visto algumas vezes, mas não o conhecia.
- Ouvi dizer que ele saiu com uma mulher e você os seguiu, isso é verdade?
- Sim, eu fui atrás deles mas logo os dois entraram em um carro preto e desapareceram – desconversei.

Humberto não parecia muito convencido da história e disse que voltaria a me procurar. Agradeceu e foi embora me deixando o seu cartão para, caso eu lembrasse de mais alguma coisa, ligasse para ele.

Naquele momento eu estava furioso. Alfredo havia me dedurado: pedi para ficar alguns minutos em meu lugar e ele me entregou para a polícia! Era preciso agir. Estava na hora de Alfredo ter o mesmo fim do cliente.

Saí do bar às 2:30 e fiquei esperando por Alfredo, no outro lado da rua.

Ele era um rapaz franzino: cerca de 1,65 e bastante magro. Às 2:45 ele saiu do Bar e seguiu em direção ao seu carro que estava estacionado em um edifício garagem, a pouco mais de 1 quilômetro do local.

Resolvi atalhar por uma rua alternativa e consegui chegar antes dele. Alfredo entrou no estacionamento, caminhou até o carro e quando se preparava para abrir a porta de seu Corsa, foi surpreendido por 3 golpes de machado na cabeça.

Coloquei o corpo de Alfredo no porta-malas, liguei o carro e fui em direção a um depósito de lixo abandonado. Após mais alguns golpes de machado, o corpo de Alfredo já estava em pedaços e misturado em meio a uma montanha de lixo.

Agora, era preciso me livrar do carro.

Então passei em um posto, comprei alguns litros de gasolina e dirigi até um ferro velho. Após algumas explosões o Corsa era agora, apenas mais uma lataria queimada na imensidão do ferro velho.

Alfredo já fazia parte do passado.

Mas ainda havia um obstáculo que poderia atrapalhar meus planos: o investigador Humberto.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS



MEMÓRIAS DE UM BARMAN - EPISÓDIO 1

Parecia que ia ser mais uma quarta-feira normal.

Os mesmos clientes, a mesma nostalgia, uma ou outra paquera e só. O lugar também não era lá essas coisas: a decoração antiga, as mesas de madeira escura e as caricaturas na parede de músicos como Tom, Vinícius e Cartola, traziam o ar da velha boemia.

Eu estava trabalhando no bar há mais ou menos duas semanas, apenas quebrando um galho para um amigo que havia machucado o braço, já que sempre gostei de trabalhar em lugares mais agitados.

A noite andava pacata e tranquila até que a meia-noite, a mais bela obra de arte entrou pela porta. Uma deusa.

Cabelos longos e brilhantes. Simplesmente divina.

Mas não foi apenas eu que notei a sua presença. Um cliente solitário que frequentava a casa diariamente e tinha por hábito sentar em frente ao balcão também notou. Meu amigo havia me falado que apesar de empresário do setor de alimentos, casado e pai de 2 filhos, ele gostava de um pouco de solidão, e por isso frequentava bastante o bar à noite.

Ele parecia hipnotizado pelo olhar da garota, sequer conseguia piscar.

Ela se aproximou do balcão e sentou ao seu lado. Falou algumas palavras ao seu ouvido e o pegou pelo braço. Ambos foram em direção a saída.
Eu que não era bobo, pedi a um colega para me substituir e fui atrás do casal.

Eles entraram em uma rua escura e sem saída, onde era possível escutar o barulho de goteiras que caíam dos prédios vizinhos. Me escondi atrás de um container, desses que servem como lixeira de grandes edifícios.

O clima entre eles estava esquentando.

Para quem gostava de solidão o cliente parecia irreconhecível. Enquanto ela o beijava loucamente, ele levantou o vestido e deslizou suas mãos pelo corpo da garota. Podia ouvir os sussuros e os gemidos do casal.

Enquanto eu observava, um gato pulou na lixeira derrubando algumas latas e fazendo barulho. Os dois se assustaram e resolveram sair dali. Me abaixei para não ser visto e eles passaram por mim.

Resolvi segui-los mais um pouco.

Caminharam por cerca de duas quadras até chegarem ao carro dela: um Mustang Preto conversível. Os dois entraram no carro e seguiram em direção ao fim da rua.

Como já havia passado alguns minutos, resolvi voltar para o bar e continuar o serviço, antes que dessem minha falta.

A noite seguiu tranquila até o último cliente.

No outro dia pela manhã quando abri o jornal, dei de cara com a foto do cliente e a seguinte manchete: "Empresário é encontrado morto em quarto de motel"

terça-feira, 10 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS

O CASAL DE NAMORADOS


Um jovem casal de namorados estava voltando para casa, depois de uma festa, já passava da meia noite.
Como eles ficaram até o final da festa, estavam pra lá de exaustos, ansiosos para chegar em casa e ir dormir, pois os sons da festa ainda estavam zunindo no ouvido.

O rapaz, sentindo que a noite era apenas uma criança, pegou uma saída da estrada, que os levaria para um lugar mais "tranqüilo", onde não seriam incomodados.

Acontece que essa estrada era de chão-batido e cascalho, dando a impressão que ninguém havia dirigido por ali há muito tempo, pois o mato e a vegetação estava tão altos que, em alguns momentos, chegavam a raspar nas laterais do carro.

A moça, que já havia pego no sono, acordou imaginando onde eles estavam e perguntou aonde eles estavam indo. O rapaz falou que queria dirigir por aí e passar algum tempo sozinho com ela.

Ele tinha em mente algum lugar escuro e isolado, onde não haveria interrupções. Apesar de a garota estar cansada, ela concordou com os planos do rapaz, sabendo que ele não aceitaria um não como resposta.

O casal estava indo bem devagar pela estrada de terra, e o farol do carro não era o suficiente para iluminar a noite escura e nem penetrar no matagal em volta. De repente o carro atingiu algo na estrada. Sem saber o que era o rapaz parou o carro imediatamente e saiu para investigar.

"Ah não!" ele exclamou quando viu um largo pedaço de um tronco embaixo do carro. Quando virou, viu que também havia uma grande coluna de vapor saindo do capô do carro. O rapaz chutou o tronco, sabendo que ele teria que fazer mais do que isso para conseguir tirar o pedaço de madeira de baixo do carro, gritou: "Era só o que me faltava!", enquanto voltava para dentro do carro para contar a garota o que havia acontecido.

Ainda não se dando por vencido, ele tentou ligar o veiculo, mas o carro resmungou, resmungou e não pegou. As luzes estavam todas acesas, mas não havia nada que fizesse o carro pegar.

"Eu vou ter que voltar para a estrada para procurar ajuda" ele falou mexendo a cabeça e agarrando o volante. "Fique no carro que eu volto logo." foram as suas ultimas palavras enquanto saia do veículo, ajeitava a blusa e andava sozinho em direção à escuridão.

Apesar de a garota não gostar da idéia de ficar sozinha pelo resto da noite em uma estrada de terra no meio do nada, ela estava muito cansada para ir com ele e ficar sem dormir. Ela preferiu ficar, se acomodar no banco do passageiro e sonhar enquanto ele estivesse fora arranjando ajuda. De qualquer forma foi idéia dele ir até lá, não foi? Era ele que devia ir buscar ajuda!

Ela ficou olhando ele pelo espelho retrovisor até que não pudesse mais enxerga-lo, o que não demorou muito, ele parecia ser engolido completamente pela escuridão. A garota pensou que idéia idiota de ele pegar aquela estrada, mas não demorou muito para o sono bater.

Enquanto a garota fechava os olhos para dormir, pensou se ele voltaria antes do amanhecer, e também se ele encontraria ajuda, já que não viram nenhum carro durante o percurso. Logo ela pegou no sono.

Assustada, ela acordou de repente. "O que foi isso?!", o sono ainda embaçando os seus pensamentos, ela chacoalhou a cabeça para clarear a mente, com a impressão de que alguma coisa tinha acontecido enquanto dormia, alguma coisa que a tinha acordado mas agora já havia acabado ou passado. Olhando pelo espelho retrovisor, a única coisa que seus olhos podiam ver era escuridão, escuridão e mais escuridão.

A noite estava quieta como nunca, mas ela não havia ouvido um barulho antes? Porque estava tudo tão calmo e quieto agora? Provavelmente algo a acordou!.

Sozinha, com medo e cansada por ter sido acordada em meio a um sono profundo, ela agora desejava que tivesse falado para o namorado não ir buscar ajuda...

Olhando o seu relógio parecia que o sol estava para nascer. Agora era 4:30am.

- Que horas que ele foi? Acho que era em torno de 2:00 ou 2:30 com certeza.

Então a moça começou a pensar em tudo o que havia acontecido para ver se conseguia descobrir exatamente que horas o seu namorado havia saído para buscar ajuda. "Bem, seja qual for a hora que ele tenha ido, já faz muito tempo e ele deve estar para voltar logo", ela falou baixinho para si mesma.

A noite estava inacreditavelmente quieta agora: não havia mais o tradicional barulho dos grilos e de outros insetos da noite, mas a sensação estava no ar: ela sentia que não estava mais sozinha.

Sem conseguir ver nada na frente ou atrás do carro, ela esperou que fosse o namorado voltando com ajuda. Calafrios estavam começando a aparecer e o cabelo da nuca começava a arrepiar. De repente, a escuridão lá fora pareceu se mexer.

"Eu devo estar enlouquecendo", disse para si mesma. A garota decidiu que era hora de religar os faróis do carro, e quando se inclinava para girar as chaves da ignição, houve um grande barulho "TUMP" no teto do carro. A sua primeira reação foi pular e se encolher no seu banco. Olhando em volta freneticamente, mas instintivamente sem mexer um músculo e novamente pareceu que algo se moveu lá fora, em meio a escuridão.

"TUMP, TUMP". Aquele som de novo, e um pequeno grito escapou da sua boca. O que eu faço, o que é isso? Alguém me ajuda, eram os seus pensamentos. Eu estou sozinha aqui no meio do nada, o que, em nome de Deus, eu faço? "TUMP!" de novo.

Lágrimas de horror e medo correram pelo seu rosto, não havia ajuda, ela estava sozinha e provavelmente tinha algo no teto do carro, prestes a ataca-la.

TUMP.......de novo...............TUMP TUMP. O medo tomou conta de seu corpo, mas a garota decidiu não ser uma presa fácil: ela iria abrir a porta e correr feito uma condenada.

"TUMP TUMP TUMP TUMP", foi a gota d'água. Suas mãos tremendo e tentando abrir a porta sem sucesso, lágrimas escoavam agora de seus olhos embaçando a sua visão. Ela conseguiu finalmente abrir a porta. Estando tão assustada e confusa, ao invés de fazer uma saída triunfal e correr como nunca, ela caiu de cabeça do carro, aterrisando com o seu rosto na terra.

Enquanto tentava engatinhar e levantar ao mesmo tempo para correr, luzes fortes inundaram a área ao seu redor. Ela só conseguia ver lâmpadas e lanternas se movendo e sombras escuras atrás das luzes. A moça estava quase entrando em choque quando ouviu uma voz gritar algo para ela. Confusa e de pé novamente ela só pensava em ir cambaleando em direção à luz. Protegendo os olhos da forte iluminação, a moça podia ouvir as vozes com um certo tom autoritário, que pareciam ser instruções.

De novo a voz repetiu. "Dona, se afasta do carro, venha em nossa direção e o que quer que você faça, não olhe para trás".

De novo "Moça, continue vindo em nossa direção olhando para nós, não olhe para trás". Ela estava quase desmaiando e começou a cair em direção às luzes. Ela foi pega por um homem uniformizado que ela reconheceu ser do departamento de policia local, e pode ver atrás das luzes. Tinham lá cerca de 10 a 15 viaturas da polícia e o dobro de policiais com as suas armas em mão.

Antes de ela perder a consciência ela havia mais uma coisa a ser feita. A garota juntou todas as suas forças para virar e olhar para o carro.

E ali, no teto já amassado do carro havia um ser gigantesco, algo que parecia um monstro, ou ser um humano desfigurado.

Tinha uma longa estaca na mão e estava babando feito louco, enquanto gargalhava e batia no teto com a estaca. Mas ela não deixou de notar, antes de desmaiar, que na ponta da estaca, estava a cabeça do seu namorado.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS

Vozes no quarto

Quando eu me deitei para dormir, achava que ia ser apenas mais uma típica noite de inverno, mas eu estava errado...

A nossa casa era daquelas antigas, de madeira, meu quarto ficava no andar de cima. Da minha cama eu podia ver as árvores lá fora, balançando com a brisa fria e as luzes iluminando as ruas já vazias, com aquele brilho amarelado.

Já passava da meia-noite, tradicionalmente, a essa hora eu já estaria cansado, mas eu não estava.

Meu irmão, minhas irmãs e minha mãe já estavam dormindo, do outro lado da casa. Nossos quartos eram separados por longo corredor, o que estava ótimo para mim, pois gostava do silêncio.

As luzes da rua mandavam um brilho fraco para dentro do quarto. Não o suficiente para fazer tudo no quarto ficar visível, mas apenas o suficiente para quebrar um pouco a escuridão.

Tentando achar um jeito para relaxar e dormir um pouco, decidi colocar os meus fones de ouvido e ligar o stereo, para ter algum som de fundo e fazer a minha cabeça parar de pensar um pouco.

Quando eu estava quase pegando no sono, a música Revolt do Sepultura começou a tocar. A música estava estranha, o coro no fundo da música estava mais forte do que as outras palavras, e me faziam lembrar de vozes de um coro de igreja.

Na hora uma imagem veio na minha cabeça. Eu sozinho, dentro de uma igreja velha, com grandes colunas e fileiras de pessoas sem rosto num coro. As pessoas gritavam tão alto que fazia o meu peito tremer e o coração disparar. A cada segundo a imagem parecia mais real, o medo estava tomando conta de mim.

Quando achava que não iria agüentar aquilo por nem mais um segundo, uma voz grossa, áspera e profunda com um tom grave chamou o meu nome.
A voz foi tão alta que me deixou paralisado, sem conseguir soltar o grito que subia pela minha garganta.

O meu nome.

Alguma coisa chamou o meu nome. Após o que parecia ser uma eternidade, a paralisia passou e eu pulei da minha cama, jogando os fones de ouvido para o outro lado do quarto. O que tinha sido aquilo? Quem tinha falado aquilo? Todos estavam dormindo. Não tinha ninguém na casa que tivesse uma voz parecida com aquela! A voz tinha vindo dos fones, mas aquilo não era possível.

Então eu senti.

Por causa do medo, não havia notado antes. Eu não estava mais sozinho. Meu coração estava batendo forte. Meus olhos percorriam o quarto todo.

Era impossível. Eu não via ninguém, mas sabia que alguém estava ali. Aquela presença opressora que estava engolindo todo aquele quarto estava bem na minha frente.

Enquanto meus olhos insistiam em percorrer todos os cantos do quarto, por um segundo pude ver a sombra de uma pessoa no espelho. Então eu encarei o canto do quarto, perto de um baú de madeira, mas o que eu tinha visto não estava mais ali, mas a sensação permanecia.

Quanto mais eu ficava ali parado, mais a luz diminuía. O brilho da luz que entrava pela janela estava ficando cada vez mais fraco. Sabia que tinha de sair de lá, pois quanto mais eu ficasse, mais o terror me dominaria.

Agora o quarto já estava totalmente escuro, já não conseguia mais ver o reflexo da luz na maçaneta da porta. Eu tinha de me esforçar e correr até o outro lado do quarto para sair de lá.

Mas e se o que eu tinha visto estiver na frente da porta? pensei. E se a porta não abrir?

Em um segundo eu estava de pé correndo para a porta. Podia sentir o vento que se formou com a minha corrida desesperada, esfriando a minha pele encharcada de suor. Eu bati na porta e girei a maçaneta, ela abriu e eu corri para o corredor.

Quando eu estava longe o bastante da porta eu olhei para trás e o que eu vi e ouvi me deixou mais assustado ainda. A voz tinha voltado, mas agora estava mais forte e cheia de ódio. Era um tom de voz grave e profundo. A voz falou o meu nome novamente.

O que queria comigo? A porta se fechou, tão violentamente que o batente em cima da porta desgrudou da parede e caiu no chão. Minha respiração sumiu, estava pálido como um cão morto.

Eu reuni todas as minhas forças para não deixar a escuridão me engolfar. Me virei e fui cambaleando para o quarto de minha mãe, me apoiando na parede para não cair.

Então atravessei o corredor, onde tinha um pequeno abajur ligado, e enquanto eu passava pela banheiro, esperava que a luz do abajur também seria engolida pela escuridão, assim como acontecera no meu quarto, mas não aconteceu, a luz permaneceu acesa.

Quando finalmente cheguei ao quarto de minha mãe a porta estava aberta e eu podia ouvir o som da TV ligada. Me ajoelhei no chão ao lado de sua cama, tentando acorda-la, mas não conseguia falar nada, apenas fiquei ali parado.

Acho que ela percebera que eu estava ali, e ela acordou e virou para mim. Toda a cor de seu rosto sumiu quando ela me olhou.
Minha mãe ficou deitada com a mão na boca, como se acabasse de ter visto a própria morte em pessoa. Então ela soltou um grito desesperador, daqueles que rasgam a sua alma, e saltou da cama para me segurar.

Foi quando notei que havia suado tanto que minha camiseta estava ensopada e fira quando a minha mãe a apertou contra mim.

Depois de ter explicado para a ela o que havia acontecido, minha mãe não sabia o que pensar. Então falou calmamente "venha comigo e faça tudo o que eu disser para fazer". Minha mãe é muito supersticiosa e ela sabia o que tinha de ser feito.

Pela histórias que minha mãe me contou sobre coisas que ela tinha visto e pelas histórias que eram passadas de geração em geração, parecia que sempre teve uma luta entre o bem e o mal na nossa família. Ela me levou até o seu armário e empurrou todas as roupas para o lado.

O armário tinha um fundo falso que, ao ser retirado, revelou um esconderijo. O que vi me gelou completamente. Havia velas acesas iluminando estatuetas e imagens em volta. Santos e algumas estátuas sem rosto, iguais as da visão que tivera no quarto.

Minha mãe sempre rezou por proteção e saúde. Os santos estavam todos lá, me encarando com olhos cheios de tristeza, como se soubessem o mal que me atormentara nessa noite.

Minha cabeça ainda estava um pouco atordoada, mas minha mãe estava concentrada e determinada a expulsar as forças demoníacas que habitavam nossa casa. Então ela me deu um velho cálice contendo escrituras até então desconhecidas para mim.

Pensei que estivesse escrito em espanhol, mas a minha mãe falou que era uma oração escrita em uma língua usada muito tempo atrás. Ela também me deu dois pequenos bastões. Falou que não poderia fazer aquilo por mim porque o que quer que fosse aquela força maligna, ela estava lá por mim, e somente eu poderia bani-la.

Ela me falou para encher o cálice com água, posicionar os bastões na forma de uma cruz no topo e coloca-lo no meio do quarto. Ela falou que a oração no cálice e a água iriam repelir qualquer que fosse aquela força que estava no quarto, levando-a de volta para onde tinha saído.
Então eu soube que teria que voltar lá.

Enquanto eu caminhava para a porta do meu quarto, meu coração começou a bater forte novamente. E se aquela coisa estivesse me esperando? Eu encostei na maçaneta e tive um flash do que tinha acontecido ali, trazendo todo o terror de volta. Abri a porta e o ar estava parado, a escuridão era total. Cada passo que dava, eu o fazia com hesitação. Eu não podia ver nada, mas eu sentia que estava sendo observado.

Alguns minutos tinham se passado e eu ainda não tinha chegado no centro do quarto. Porque eu estava demorando tanto?

Então, finalmente cheguei. Assim que parei de me mexer, ouvi um murmúrio vindo do canto do quarto. Dessa vez não teve palavras, só um rosnado.

O pêlo de minha nuca arrepiou, minhas mãos começaram a tremer. E com as mãos tremendo posicionei o cálice no chão, coloquei os bastões em cima dele e então senti uma baforada quente na minha nuca.

Eu não me virei. Eu não podia! Me levantei e fui andando de costas para fora do quarto, esperando que o que quer que fosse que estava atrás de mim, me deixasse sair.

Eu estendi a mão para trás e encontrei o batente da porta, então me virei o mais rápido que pude, e corri pelo corredor. Dessa vez a porta não se fechou. Desci as escadas como um louco em direção a sala.

No velho sofá estava minha mãe, iluminada por um abajur ligado. Agora só tínhamos de esperar. Eu perguntei para ela quanto tempo tudo aquilo iria demorar.

Mas o que ela me perguntou logo em seguida me deixou confuso. Ela perguntou: "Você acha que você quis que aquilo viesse?"

Eu não sabia o que dizer. Fiquei parado, sem dizer nada. Minha mãe voltou para o seu quarto, mas eu fiquei lá, ouvindo, esperando.

Passados alguns minutos, comecei a sentir uma brisa fria no meu rosto, olhei as janelas e elas estavam fechadas. Então levantei e andei até o corredor, quando ouvi o mesmo rosnado, só que destava vez mais forte. Enquanto me aproximava da porta, ele ficava cada vez mais alto.

Então entrei no quarto, mas agora eu já não sentia mais medo. Eu andei até o cálice e olhei dentro dele, a água continuava lá. estática. Agora a pergunta que minha mãe tinha feito voltava a minha mente "você acha que você quis que aquilo viesse?".

Eu peguei o cálice e o segurei em frente a meus olhos. A água tinha mudado. Não era mais água, mas sim sangue!
Agora eu ouvia o rosnado, mas dessa vez estava diferente. Dessa vez ele vinha de mim!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2002

HISTÓRIAS FANTÁSTICAS

Essa história é sobre um pintor.

Ele já estava ficando velho, e não tinha muito dinheiro. Havia um concurso de arte que estava chegando à cidade, e não somente faria ele famoso, mas também lhe daria muito dinheiro, caso ele ganhasse.

O artista estava ficando nervoso, porque não importa o quanto ele tentasse, ele sabia que as suas pinturas não eram boas o suficiente. Ele começou a pensar como poderia ganhar o prêmio quando subitamente uma figura aterrorizante apareceu em sua frente.

Era um homem muito velho, sem mãos e sem olhos. As suas órbitas eram vazias. Então ele começou a falar:

"Eu sei como você esta desesperado para ir bem no concurso. Eu posso garantir a sua vitória, mas sob uma condição: você terá que me dar a sua mão direita". O pintor sabia que aquela aparição era maligna, mas ele estava tão desesperado que concordou.

No dia seguinte ele apareceu no concurso, e viu a pintura mais espetacular que ela já vista em sua vida, e para surpresa a sua assinatura estava nela. Como já era esperado, ele levou o primeiro prêmio para casa. Naquela noite a aparição veio, e com um golpe de uma faca, a mão do artista se fora.

Algum tempo depois, o artista estava aproveitando a sua fama e fortuna. Ele tinha inventado uma história sobre a mão e já havia esquecido o trato que ele tinha feito.

Ele estava dormindo quando acordou com uma batida forte na janela. Acordou e viu a sua mão na janela, implorando para entrar. Ele não queria mais nada com ela, pois ela agora não era mais dele, então a ignorou e voltou para a cama. Depois de um tempo ele acordou de novo com as batidas na janela. A mão estava implorando para entrar de novo. O pintor a ignorou novamente, mas estava ficando nervoso. De novo mais tarde a mão bateu de novo. Desta vez o pintor gritou para a mão deixa-lo ele em paz. O resto da noite ele dormiu em paz, e na manhã seguinte ele achou que tudo não passara de um sonho.

Na noite seguinte ele estava dormindo pacificamente quando acordou com o barulho de uma janela sendo quebrada no andar de baixo. Ele desce para ver o que era. Ele estava correndo pelas escadas abaixo e a última coisa que ele sentiu foi algo agarrando o seu tornozelo.

Ele foi encontrado dois meses depois. Os seus vizinhos reclamaram a polícia sobre o mau cheiro. A causa da sua morte? O pescoço quebrado por uma queda feia escada abaixo.

Nos próximos dias, teremos mais histórias fantásicas!!
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